Lula demonstra disposição para diálogo com Trump sobre tarifaço, mas clima é de pessimismo
Segundo fontes palacianas, presidente estaria disposto a ligar para Trump, desde que ele atenda a ligação

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está aberto a conversar diretamente com o presidente norte-americano Donald Trump sobre as tarifas de 50% que serão impostas aos produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. Segundo fontes do Palácio do Planalto, Lula condiciona o diálogo a que seja o próprio Trump quem atenda à ligação, demonstrando assim a seriedade da negociação. A abertura para o diálogo surgiu após sugestão de senadores brasileiros que estão nos Estados Unidos tentando amenizar os impactos da medida.
O clima no governo brasileiro, no entanto, é de ceticismo. Avalia-se que a Casa Branca só pretende negociar depois que as tarifas entrarem em vigor, como forma de aumentar seu poder de barganha. Fontes governamentais relatam que os canais de comunicação com a administração Trump estão praticamente fechados, com dificuldades de estabelecer contato mesmo com órgãos técnicos como o Departamento de Comércio e o Tesouro norte-americanos.
Um interlocutor próximo a Lula afirmou que o Brasil mantém a disposição para o diálogo, mas estabeleceu limites claros: "A soberania não é negociável". A declaração refere-se à resistência brasileira a eventuais pressões sobre decisões do Supremo Tribunal Federal ou sobre sistemas de pagamento como o Pix, que segundo fontes do governo causariam desconforto em empresas norte-americanas por afetar sua rentabilidade.
O tarifaço foi anunciado por Trump no dia 9 de julho, justificado por razões políticas e comerciais. No dia 23, o presidente norte-americano reforçou que as tarifas de 50% atingiriam países com os quais os EUA não mantêm "bons relacionamentos", incluindo claramente o Brasil. Neste domingo (27), o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, confirmou que as tarifas entrarão em vigor em 1º de agosto "sem prorrogações".
Enquanto isso, o chanceler Mauro Vieira está nos Estados Unidos para participar de reuniões na ONU sobre a questão palestina, mas poderá se deslocar para Washington caso haja abertura do governo americano para negociar. Paralelamente, a Amcham Brasil alerta que cerca de 10 mil empresas brasileiras exportadoras - que empregam 3,2 milhões de trabalhadores - serão impactadas pela medida.
O vice-presidente Geraldo Alckmin destacou que empresas norte-americanas com operações no Brasil, como General Motors, Johnson & Johnson e Caterpillar, também seriam prejudicadas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que a equipe econômica prepara um plano de contingência para apoiar os setores afetados, afirmando que "não vamos deixar ao desalento os trabalhadores brasileiros".
Foto: Ricardo Stuckert / PR
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